Acerca de
Processos e contradições do documentário ativista:
entrevista com Jem Cohen
por Pedro Henrique Ferreira
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Atuando há praticamente quatro décadas no cenário nova-iorquino de cinema alternativo, o diretor Jem Cohen já tem - para as vicissitudes de seu campo - uma trajetória bem consagrada. Nascido no Afeganistão, filho de pais norte-americanos, aproximou-se cedo dos circuitos underground de música, fotografia, museus e galerias, mais que da indústria cinematográfica mainstream. Ao longo da carreira, realizou uma série de filmes experimentais em colaboração com bandas de punk e outras [obras das quais a mais conhecida é Instrument (1999), rodada em bitolas de super 8, 16mm e video, sobre banda Fugazi), diários paisagísticos e meditativos da metrópole e outras cidades como Lost Book Found (1996) ou Counting (2015), além de breves incursões em longas-metragens que mesclam narrativas ficcionais com explorações flaunerísticas das geografias onde roda, como Horas de Museu (2012) ou Chain (2004). O estilo de Cohen mescla, de uma maneira muito pessoal e única, uma série de referências que podem, em princípio, parecerem antípodas: a excitação visual radical e o tensionamento de linhas que parecem vir dos newsreels de um Vertov alternam-se com a passividade quase imperturbável do olhar detido de um Wiseman; a frieza deste com a verve poética, ensaística e subjetiva de uma Varda ou de um Mekas lidando com o material bruto da vida - tudo isto se entrecruza num jeito bastante único e artesanal de fazer filmes que - por outro lado, até mais que a maioria destas referências - voltam-se a um circuito mais radical do cinema experimental e de arte, museus e instalações, frequentemente passando bem longe das salas comerciais.
Em Janeiro de 2020, alguns meses antes do mundo mergulhar na pandemia, tivemos a oportunidade de conhecê-lo durante as filmagens de uma série documental de televisão em Nova Iorque. O intuito inicial é que a entrevista poderia ou não fazer parte do projeto. Gentilmente e sem muitas reticências, Jem nos recebeu em sua residência próxima a uma região de docas do Rio Hudson, num apartamento que é também seu laboratório experimental, entulhado de fotografias, películas, câmeras, materiais químicos, textos, etc. Conversamos principalmente sobre documentário ativista, tendo como eixo principal da discussão suas reflexões sobre o tema e sua participação documentando em uma série de breve curtas-metragens o movimento do Occupy Wall Street em 2011. O resultado foi esta entrevista, aqui disponibilizada na íntegra, que, como imaginávamos, não fez parte do projeto inicial; mas que serve ao espectador como uma riquíssima e pessoal reflexão sobre o tema de um dos interessantes nomes do cinema experimental norte-americano de hoje.
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Entrevista: Pedro Henrique Ferreira
Luz e Camera: Guilherme Tostes
Som: Guilherme Farkas
Produção: Carolina Amaral / Dilúvio Produções
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+ Link para a série de filmes intitulada 'Gravity Hill Newsreel', que contêm 12 curtas documentais sobre o Occupy Wallstreet
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+ Link para o manifesto 'Nineteen Hopes for an Activist Cinema', de Jem Cohen.
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